Rastreamento

O rastreamento do câncer consiste em se fazer certos exames para eventualmente detectar certos tipos de câncer ainda no início, ou antes mesmo de ele surgir, e ainda incapazes de causar qualquer sinal ou sintoma. Saiba mais…

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O que é rastreamento do câncer?

Rastreamento ou triagem do câncer significa pesquisar a presença de câncer antes que a pessoa tenha qualquer sintoma. O rastreamento do câncer tem o objetivo de tentar diagnosticar um câncer em estágio inicial caso ele esteja presente, quando o tratamento é mais fácil e a chance de cura é maior.

É importante destacar que quando os sintomas aparecem, existe uma chance maior de o câncer já ter crescido e eventualmente se espalhado, o que dificulta o tratamento ou a cura.

Portanto, quando o médico solicita ou executa um exame de rastreamento não significa que ele acha que o indivíduo está com câncer. O exame de rastreamento é feito justamente quando não existe sinais ou sintomas de câncer, como forma de prevenção secundária. A maioria dos exames de rastreamento resultam normais, ou seja, não vão diagnosticar câncer.

Quais são os tipos de exames de rastreamento do câncer?

Existem diferentes tipos de exames de rastreamento de câncer:

  • Anamnese e exame físico: em medicina costuma-se dizer que “A clínica é soberana”, o que significa que as informações clínicas que o médico obtém do paciente por meio da entrevista e do exame físico são fundamentais, antes mesmo de qualquer outro exame. A consulta médica é o momento de o médico identificar se o paciente possui fatores de risco para doenças, tais como idade, hábitos de vida, doenças prévias ou mesmo sinais de doença em seu corpo.
  • Exames laboratoriais: são exames feitos em amostras de sangue, urina, fezes ou outros fluidos do corpo, como exame de dosagem de PSA ou Papanicolau;
  • Exames endoscópicos: são exames feitos com aparelhos capazes de visualizar cavidades dentro do corpo, como endoscopia e colonoscopia;
  • Exames de imagem: são exames feitos por máquinas ou aparelhos capazes de mostrar imagens de dentro do corpo, como mamografia ou tomografia;
  • Exames genéticos: são exames feitos em amostras de fluidos ou tecidos do corpo para detectar alterações nos genes ou cromossomos, indicando que a pessoa possui um risco aumentado para desenvolver uma doença, como o exame BRCA.

Os exames de rastreamento possuem algum risco? Quais?

Os exames de rastreamento em geral são úteis e recomendados para alguns grupos de pessoas para pesquisar a presença de certos tipos de câncer. No entanto, tais exames podem ter seus inconvenientes:

  • Risco de causar algum dano ao indivíduo: Ocorre quando o exame em si causa alguma lesão no indivíduo ou o expõe a algum risco, embora a maioria seja segura e o benefício da sua realização quase sempre supera os riscos. Exemplo: risco de sangramento ou exposição à radiação durante um exame;
  • Resultado falso-positivo: Ocorre quando o resultado de um exame mostra uma alteração que, na verdade, não é câncer. O resultado falso-positivo geralmente leva à realização de mais exames e causa preocupação desnecessária;
  • Resultado falso-negativo: Ocorre quando o resultado de um exame não mostra nenhuma alteração suspeita, mas o câncer está presente. O resultado falso-negativo leva à falsa sensação de que tudo está normal, mesmo quando há sintomas;
  • Diagnóstico e tratamento excessivos: Ocorre quando a descoberta de um câncer de crescimento lento não aumenta a chance de cura nem o ajuda a viver mais tempo. Neste caso, o indivíduo pode receber um tratamento que não é realmente necessário e pode até ser prejudicial;
  • Custo-efetividade desfavorável: Ocorre quando um grande número de pessoas precisa ser testado para se descobrir um câncer cujo diagnóstico precoce faça diferença entre o sucesso e o fracasso do tratamento. Deste modo, se aplicado a toda a população, o exame poderia ter um alto custo e pouca efetividade.

Por conta disso tudo, é importante que o indivíduo entenda os riscos e os benefícios dos exames de rastreamento, tome uma decisão consciente sobre a realização de um exame e, preferencialmente, assine um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a realização do mesmo.

Quem precisa de exames de rastreamento de câncer?

Os exames de rastreamento não são indicados para todas as pessoas. Certos exames de rastreamento devem ser sugeridos apenas para pessoas que têm um risco maior para desenvolver alguns tipos de câncer, o que depende do seguinte:

  • Idade;
  • Gênero;
  • Exposição a fatores de risco de câncer;
  • Histórico pessoal ou familiar de câncer;
  • Presença de mutação genética ligada a câncer.

Rastreamento do câncer de cólon e reto (intestino)

Existe três exames que ajudam a reduzir o risco de morte por câncer de cólon e reto:

  • Colonoscopia;
  • Retossigmoidoscopia;
  • Exame de sangue oculto nas fezes.

A colonoscopia é um exame endoscópico, em que um fino tubo flexível é introduzido pelo ânus, permitindo a visualização interna de todo o intestino grosso e a remoção de pólipos caso eles existam. A retossigmoidoscopia é semelhante a colonoscopia, porém visualiza apenas a região final do cólon.

Muitos pólipos possuem alterações chamadas displasias, que são pré-malignas, ou seja, caso nada fosse feito, esses pólipos poderiam se transformar em câncer ao longo dos anos.

Caso haja um tumor maior durante o exame, apenas uma pequena amostra (biópsia) é removida para análise do médico patologista.

A Sociedade Americana de Câncer (American Cancer Society) recomenda o rastreamento do câncer de cólon e reto para homens e mulheres a partir dos 45 anos de risco habitual, por meio de colonoscopia a cada 10 anos ou sangue oculto nas fezes uma vez por ano.

Essa periodicidade pode ser menor dependendo do histórico da pessoa ou do resultado do exame anterior.

O exame de sangue oculto nas fezes é uma alternativa mais acessível e menos invasiva que a colonoscopia para o rastreamento do câncer de cólon e reto.

Trata-se de um exame de fezes onde é pesquisada a presença de sangue invisível a olho nu. Caso o exame detecte sangue oculto nas fezes, então é preciso realizar uma colonoscopia.

É importante saber que, na maioria dos casos, esse pequeno sangramento é causado por condições benignas, como hemorroidas ou fissura anal.

Em geral, o exame de sangue oculto nas fezes deve ser feito em homens e mulheres a partir dos 45 anos uma vez por ano.

Rastreamento do câncer de pulmão

O tabaco é a principal causa evitável de câncer, sendo responsável pela maioria dos casos de câncer de pulmão. Recentemente, tem sido recomendado o rastreamento do câncer de pulmão em alguns indivíduos tabagistas.

A tomografia computadorizada helicoidal de tórax com baixa dose de radiação é o exame que ajuda a reduzir o risco de morte por câncer de pulmão em pessoas assintomáticas que fumam muito ou fumaram muito.

A Força Tarefa Preventiva dos Estados Unidos (USPTF) recomenda o rastreamento do câncer de pulmão para homens e mulheres de 50 a 80 anos com histórico de tabagismo de 20 anos-maço e que atualmente fuma ou pararam de fumar nos últimos 15 anos, por meio de tomografia computadorizada helicoidal de tórax com baixa dose de radiação.

Quem tem alto risco? Pessoas com histórico de tabagismo de 20 anos-maço que ainda fumam ou que pararam de fumar há menos de 15 anos.

E o que significa anos-maço? Significa o tempo (em anos) em que o indivíduo fumou cerca de um maço por dia.

Por exemplo, alguém com um histórico de 20 anos-maço fumou, em média, um maço por dia durante 20 anos (ou dois maços por dia durante 10 anos, e assim por diante).

Rastreamento do câncer de mama

A mamografia é o exame que ajuda a reduzir o risco de morte por câncer de mama em mulheres acima dos 40 anos.

Embora a mamografia seja a maneira mais eficaz de se fazer o diagnóstico de câncer de mama, o ultrassom de mamas pode ser útil em mulheres com mamas mais densas. Caso um nódulo seja detectado, uma biópsia deve ser feita para confirmar ou descartar o diagnóstico.

A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda o rastreamento do câncer de mama para mulheres de risco habitual a partir dos 40 anos e para mulheres de alto risco a partir dos 30 anos, por meio de mamografia uma vez por ano.

A maioria das alterações detectadas à mamografia felizmente é benigna. Muitas vezes, é possível fazer apenas um acompanhamento das mesmas com novos exames periodicamente.

Entretanto, em outros casos, é preciso remover uma pequena amostra do tecido (biópsia) para análise microscópica.

Algumas dessas alterações podem ser câncer ou pré-câncer. Quando descobertas dessa maneira, tendem a ser pequenas, localizadas e com maior probabilidade de cura.

Rastreamento do câncer de colo de útero

O câncer de colo do útero é quase sempre causado pela infecção do vírus HPV, que é sexualmente transmissível. Portanto, mulheres que nunca tiveram relações sexuais raramente desenvolvem esse tipo de câncer.

O exame Papanicolau permite fazer o diagnóstico do câncer de colo de útero num estágio inicial, antes de se tornar invasivo.

O Ministério da Saúde recomenda rastreamento do câncer de colo de útero para mulheres de 25 a 64 anos, por meio do exame Papanicolau uma vez por ano. Após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano, o exame pode ser repetido a cada três anos.

O Papanicolaou é feito em posição ginecológica e com a ajuda de um instrumento chamado espéculo, introduzido na vagina. Assim visualizado, o colo do útero é então levemente raspado com uma espátula. As células coletadas são esfregadas numa lâmina de vidro e examinadas ao microscópico.

Na maioria das vezes, o resultado do exame é normal e não requer novas investigações. No entanto, eventualmente ele revela alterações pré-cancerosas ou mesmo o câncer de colo do útero em estágio inicial. Neste caso, a probabilidade de cura é maior.

Quando essas alterações são detectadas após o Papanicolaou, é feito um outro procedimento: a colposcopia.

Trata-se da visualização do colo com iluminação e lente de aumento, permitindo biópsia das áreas anormais.

Todos esses procedimentos são rápidos, pouco desconfortáveis e quase sempre indolores.

A maioria das lesões pré-cancerosas assim descobertas é tratada ambulatorialmente com procedimentos locais simples. Um deles é a cirurgia de alta frequência ou conização.

Algumas vezes, o diagnóstico do câncer é feito num estágio mais adiantado. Essa situação requer procedimento sob anestesia em centro cirúrgico ou outras modalidades de tratamento. Fazer o exame com a frequência recomendada diminui esse risco.

Outros exames de rastreamento

Rastreamento do câncer de próstata

O exame de dosagem de PSA no sangue, feito em conjunto com o exame de toque retal, pode detectar o câncer de próstata em estágio inicial. No entanto, atualmente o exame não é mais recomendado de rotina, pois muitos casos de câncer de próstata assim detectados são pouco agressivos, não colocariam a vida do paciente em risco, e o tratamento não aumentaria o tempo de vida do paciente, podendo ainda piorar sua qualidade de vida.

Rastreamento do câncer de pele

Recomenda-se que pessoas de alto risco para câncer de pele examinem sua pele ou consultem um dermatologista regularmente, embora não haja comprovação de que isso diminua o risco de morte por câncer de pele e possa ainda levar a diagnósticos excessivos. Em geral, todos devem estar atentos à própria pele e procurar um médico em caso de alterações.

Rastreamento do câncer de fígado

O ultrassom de fígado com ou sem a dosagem sanguínea de alfa-fetoproteína (AFP) é recomendado regularmente para pacientes com cirrose hepática, uma vez que possuem um risco alto de desenvolver câncer de fígado.

Rastreamento do câncer de ovário e endométrio

Alguns indivíduos possuem um risco maior de desenvolver câncer de ovário (por serem portadores de mutação nos genes BRCA 1 ou 2) ou câncer de endométrio (por serem portadores da síndrome de Lynch, por exemplo). Nessa situação, é comum a realização de exames de ultrassom transvaginal e dosagem sanguínea de CA 125 regularmente, embora não haja comprovação de que isso reduza o risco de morte.

 

Dr. Rodrigo de Assis Moraes

Médico Oncologista Clínico

CRM-SP 124.668 | RQE 44.725

 

Última atualização: 06/04/2022

 

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Dr. Rodrigo de Assis Moraes
Oncologista Clínico em
Campinas - SP

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Médico Oncologista Clínico em Campinas - SP com a missão diária de ajudar as pessoas no enfrentamento do câncer e contribuir para a promoção da saúde e do bem estar.

Graduação e residência médica pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, com estágio na Mayo Clinic nos EUA e título de especialista pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e Associação Médica Brasileira.

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